Mais de
70% da violência sexual contra crianças ocorre dentro de casa
Campanha nacional de conscientização é realizada no
mês de maio
Publicado
em 18/05/2019 - 17:52
Por Pedro
Rafael Vilela - Repórter da Agência Brasil Brasília
Em alusão ao Dia Nacional de Combate ao Abuso e à
Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, celebrados neste sábado (18),
pais e crianças de 0 a 14 anos participaram de uma corrida no Parque da
Cidade, em Brasília. O evento, que reuniu cerca de 800 pessoas, é uma
iniciativa da Polícia Federal, com o apoio do Ministério da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos e do governo do Distrito Federal. O objetivo é
alertar a sociedade sobre esse tipo de crime e envolver a família na prevenção
e combate.
Dados do Disque 100 mostram que, só no ano passado,
foram registradas um total de 17.093 denúncias de violência sexual contra
menores de idade. A maior parte delas é de abuso sexual (13.418 casos),
mas há denúncias também de exploração sexual (3.675). Só nos primeiros meses
deste ano, o governo federal registrou 4,7 mil novas denúncias. Os números
mostram que mais de 70% dos casos de abuso e exploração sexual de crianças e
adolescentes são praticados por pais, mães, padrastos ou outros parentes
das vítimas. Em mais de 70% dos registros, a violência foi cometida na
casa do abusador ou da vítima.
"Há uma cultura dos maus-tratos no país, e a
gente precisa implementar a cultura dos bons tratos às crianças e aos
adolescentes, os bons tratos em família", afirma Petrúcia de Melo
Andrade, secretária nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do
Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos. A secretária cita
o Estatuto da Criança e do Adolescente para ressaltar a responsabilidade
da família nos cuidados dos menores de idade, e pede maior envolvimento.
"É uma campanha que envolve a família. Quando
a gente resgata o Artigo 227 [do Estatuto da Criança e do Adolescente], no topo
do cuidado da criança e do adolescente, está primeiro a família, em
segundo a sociedade em geral e, por último, o Estado. Então, esse é o momento
dessa família trazer seus filhos e estar no cuidado com eles. Momento de
confraternização e alegria e, ao mesmo tempo, trazer essas crianças para um
reflexão de um crime que o Brasil não pode suportar", acrescenta.
Ensinar as crianças
Para Adriana Faria, subsecretária de Políticas para
Crianças e Adolescentes da Secretaria de Justiça do DF, as crianças, em boa
parte dos casos, não têm noção do que é o abuso sexual. "Aquilo incomoda,
ela geralmente sabe que aquilo é errado, mas não necessariamente que é um abuso
sexual que precisa ser denunciado. A gente precisa criar mecanismos para que
elas conheçam o próprio corpo, saibam proteger o próprio corpo e saibam
identificar que tem algo de errado e como elas podem buscar ajuda,
justamente porque muitas vezes acontece dentro de casa e não dá para procurar
nem pai, nem mãe. Tem que saber procurador um professor na escola, ou
um conselho tutelar", explica.
A autônoma Daíza Vaz Cortella participou da corrida
com a filha Elisa, de 5 anos. Ela também concorda que é preciso educar as
próprias crianças para se prevenirem da violência, e os pais não podem ter
vergonha de abordar a educação sexual com os próprios filhos.
"Nós, pais, temos sim que conversar com nossas
crianças e explicar sobre os perigos, esclarecer sobre as partes íntimas, como
identificar um abuso. Não podemos ter vergonha de educar as crianças com
essa consciência", diz.
Ao lado do filho Pedro, de 7 anos, Maria de Fátima
Sampaio era só sorrisos e um pouco de cansaço após correr cerca de 250 metros
empurrando a cadeira de rodas da criança, que tem paralisia cerebral. Para ela,
crianças com deficiência são ainda vulneráveis a situações de abuso e violência
sexual e, nesse sentido, a conscientização do núcleo familiar e a capacitação
de profissionais da educação e conselhos tutelares é crucial para o
enfrentamento do problema.
"As crianças especiais, muitas vezes, ficam
mais vulneráveis porque não têm os mesmos mecanismos de defesa que outras. Por
isso, o envolvimento da família, dos pais, da escola e Poder Público é
fundamental", afirma.
Saiba mais
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Edição: Graça
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