Minoria
no acesso ao crédito, microempreendedoras representam quase 50% do setor
- 28/02/2016 08h42
- Rio de Janeiro
Flávia
Villela - Repórter da Agência Brasil
No ano de 2006, Reinilda Maria
dos Santos e Silva tinha 35 anos e estava desempregada com um filho de apenas 4
anos. Mineira da cidade de Janaúba, mudou-se jovem para Santo André (SP), em
busca de vida melhor, mas ficou desamparada, depois que o marido foi preso.
“Cheguei a um ponto de meu filho
me pedir leite e só ter água para dar a ele. Fui na assistência social e pedi
ajuda. Eles me deram R$ 50. Com R$ 40 comprei alimentos para o meu filho. Com
os R$ 10 que sobraram comprei uma barra de chocolate, uma farinha e fiz pães de
mel para vender na rua por R$ 0,99. Vendi tudo e voltei para casa com R$ 30”,
conta.
Daí em diante, Reinilda não parou
mais. Comprou revistas para aprender novas receitas e variou a oferta. “Foram
dois anos de luta, vendendo os doces de porta em porta, nas feiras, e com meu
filho a tiracolo. Passei fome, porque deixava de comer para não faltar nada
para ele”.
Reinilda não sabia na época, mas
tornara-se uma microempreendedora. Com muito esforço, conseguiu juntar R$ 200 e
teve a ideia de comprar uma máquina de crepe, puxar uma extensão da casa onde
morava e vender crepes na rua. Mas a máquina custava R$ 500. Foi quando soube
por uma amiga do Banco do Povo - Crédito Solidário, uma organização não
governamental (ONG) que faz empréstimos a juros baixos para empreendedores de
baixa renda.
Ela conseguiu um empréstimo de R$
300. Com o dinheiro, comprou uma fritadeira, uma chapa e materiais de cozinha.
Meses depois, a fama da confeiteira espalhou-se pela cidade e as coisas
começaram, finalmente, a melhorar para Reinilda.
Em 2013, ela ganhou o prêmio
Pequenas Gigantes: Desafio São Paulo para Microempreendedoras, de R$ 5 mil,
promovido pela organização social Aliança Empreendedora. “Fomos três eleitas
entre 140 mulheres microempreendedoras. Com o dinheiro reformei meu
comércio, que ficou bem mais bonito”, conta.
Mulheres como Reinilda
representam quase a metade dos pequenos empresários brasileiros (47,4%),
segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). No
entanto, apenas 24% delas solicitaram empréstimo bancário em nome da empresa no
primeiro semestre de 2015. O estudo do Sebrae aponta ainda que as mulheres
costumam pedir valores cerca de 50% menores que os homens.
De acordo com o presidente do
Sebrae, Guilherme Afif Domingos, dos 5,6 milhões de empresários cadastrados na
categoria Microempreendedor Individual (MEI), 77% querem crescer e se tornar
micro ou pequena empresa. Entretanto, menos da metade se relaciona com bancos
como pessoa jurídica. “Cerca de 80% utilizam financiamento que não passa por
instituições financeiras, como negociação com fornecedores e cheque pré-datado.
Nos últimos cinco anos, apenas 40% dos empreendedores individuais obtiveram
empréstimo em bancos. Isso mostra que existe espaço enorme de crédito para os
microempreendedores individuais. E os empreendedores fogem dos bancos por causa
das altíssimas taxas de juros”, explica Afif Domingos.
Reinilda é exceção nesse universo
inóspito para os pequenos empresários. Abriu a
lanchonete Sabor e Cia, onde vende doces, lanches e salgados, em
Santo André (SP), faz encomendas para festas em diferentes cidades de São Paulo
e costuma receber pedidos de bolos de artistas do mundo televisivo.
Ela continua pegando empréstimos
no banco, mas agora no limite do teto – cerca de R$ 15 mil –, para garantir
capital de giro. Prestes a concluir um cursos de confeitaria e panificação e
com certificados internacionais na área, a empresária não tem descanso. Faz em
média um bolo por dia, com a ajuda de uma assistente, dá palestras e faz
assessoria. Seu sonho agora é abrir um café para vender seus quitutes e abrir
uma escola de confeitaria e passar seus conhecimentos para mulheres que como
ela têm talento, são empreendedoras, porém não têm recursos.
Para quem está começando ela
aconselha “a burocracia é muito cruel para os pequenos. Muitos acabam
desistindo. Mas hoje há vários cursos online sobre gestão financeira, de
assessoria, cursos do Sebrae gratuitos. Há créditos solidários, basta juntar um
grupo de amigas ou conhecidos”.
“Não pode desistir. Comecei com
R$ 10. Não tenha vergonha de perguntar, bater porta, de ir atrás do cliente.
Fidelize seu cliente. E capacite-se”, aconselha.
* Matéria
alterada às 11h para corrigir informações